Os druidas formavam a elite do povo celta – tribos diversificadas, de raízes indo-européias, que se espalhou por boa parte do noroeste europeu a partir do segundo milênio a.C. – e exerciam tarefas judiciárias, medicinais, sacerdotais, intelectuais, mágicas, astronômicas, entre outras. Eles não formavam dentro desta sociedade uma etnia à parte, mas com certeza ocupavam um espaço especial e privilegiado, orientando e ensinando aqueles que necessitavam de sua assessoria.
A expressão druida parece vir de
oak, ‘carvalho’, não por acaso a árvore sagrada dos celtas, e de
wid, dialeto indo-europeu que denota ‘saber’. Assim, este termo teria o sentido de ‘aquele que tem o conhecimento do carvalho’. Sendo ela uma árvore ancestral, em meio às que compõem uma floresta, quem detém a sabedoria do carvalho tem em si o saber de todas as outras árvores.
O catolicismo deturpou brutalmente esta cultura religiosa, atribuindo a ela terríveis sacrifícios humanos, cultos satânicos, bruxarias sinistras, prática de magia negra, mas nada disso correspondia à realidade desse povo, que acolheu bem os romanos e os adeptos da Igreja Católica que desembarcaram em suas terras. O druidismo era essencialmente uma religião ligada à terra, à Natureza, com raízes no animismo, não em revelações, como o Cristianismo e o Islamismo. Segundo alguns estudiosos, os druidas não seriam sacerdotes, no sentido de intermediários entre o Homem e Deus, mas sim filósofos que também lideravam os ritos religiosos.
Nesta sociedade as mulheres eram livres e tinham amplos direitos. Elas podiam inclusive lutar nas batalhas e pedir o divórcio, se assim o desejassem. Assim, elas também tinham liberdade de se tornar druidas, meio no qual elas se destacavam, pois simbolizavam a imagem da Deusa Mãe, cultuada pelos celtas. Os druidas reconheciam não ter ainda uma visão completa do Criador, portanto todos os deuses e deusas existentes no Planeta poderiam compor faces distintas de um único Deus.
Eles também acreditavam na reencarnação, na alma imortal, na lei de causa e efeito, que implicava na liberdade de ação, com suas respectivas conseqüências, no poder do livre-arbítrio, bem como da responsabilidade decorrente das escolhas realizadas e das atitudes concretizadas durante a vida. Os crimes eram severamente punidos, com uma pena de morte reservada aos mais brutais.
Infelizmente pouco se sabe sobre os druidas, quase tudo filtrado por informações dos romanos e dos católicos, pois eles não cultivavam a escrita, sua cultura era essencialmente oral. Poucos dados permaneceram nos arquivos de determinadas Ordens Iniciáticas, particularmente a Ordem Céltica e a Ordem Druídica. Sabe-se hoje que eles aparentemente não pertenciam ao povo celta, mas eram anteriores a ele, embora não esteja certo de onde eles vieram.
A presença dos druidas na literatura exerce fascínio e apresenta tons misteriosos; muitos só conhecem o druidismo através das histórias que envolvem o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, nas quais o Mago Merlin ocupa a posição de um druida, bem como Morgana, a meia-irmã do Rei. Algumas lendas dizem também que o cristão José de Arimatéia teria desembarcado em terras celtas, levando consigo o famoso Santo Graal, cálice do qual Jesus teria bebido na Última Ceia.
Os druidas cultuavam a arte, a música, a poesia, dominavam a medicina natural, a fitoterapia, a agricultura, conhecimentos astronômicos e uma concepção filosófica análoga à dos neoplatônicos. A única forma de escrita por eles conhecida era a rúnica, considerada mágica. A vertente religiosa mais popular dos celtas, impregnada de magia e essencialmente natural, é hoje conhecida como Wicca, igualmente condenada pelo Catolicismo.
Para os druidas, a vida, a Natureza, os cultos religiosos, eram de natureza circular, como os ciclos naturais, lunares e solares, comemorados quatro vezes ao ano, cada um deles ocupando três meses do calendário. Eles eram marcados por festivais muito concorridos, o Imbolc, o Beltane, o Lughnasadh e o mais importante deles, o Samhaim, associado atualmente ao Hallowen. Segundo celtas e druidas, cada ser tem sempre o auxílio dos espíritos protetores, os quais procuram, com seu zelo constante, liberá-los das constantes reencarnações. Seus cultos eram realizados unicamente ao ar livre, em campos e florestas, ou em ruínas circulares, como as de Stonehenge.